O fortalecimento de uma cultura de paz e diálogo dentro de uma escola requer um olhar sistêmico, amplo e integrado. É preciso colocar atenção no desenvolvimento socioemocional das crianças, bem como no despertar de uma postura de diálogo por parte dos educadores, e nas estruturas e processos que inevitavelmente moldam a interação dos profissionais entre si e com os alunos.
Trata-se de um trabalho “resolutivo”, no sentido de os conflitos que emergem serem tratados de forma restaurativa e transformativa, visando o restabelecimento da harmonia na convivência com as diferenças, e também “preventivo”, no sentido de semear, tanto nos jovens quanto nos adultos, recursos internos, psíquicos e emocionais, para lidar de forma construtiva com o conflito.
Além de fazer procedimentos pontuais de resolução de conflitos, através de mediação ou práticas restaurativas, é necessário que a escola olhe para o seu projeto pedagógico, para o seu estilo de gestão, para as interações que se dão entre os seus diversos públicos (professores, alunos e pais), e reflita sobre o que vem fazendo para tornar efetiva uma cultura de paz na comunidade escolar.
Um dos princípios que regem nossa atuação é de que as pessoas “só dão o que têm”. Portanto, o professor, para obter um resultado efetivo em seu trabalho de educação para o diálogo, deve trilhar seu próprio percurso, deve ser ele mesmo aquilo que pretende ensinar aos outros.
Sabemos que o ser humano, especialmente as crianças, aprendem muito mais pelo exemplo do que pela teoria. O exemplo de equilíbrio emocional, empatia e boa convivência, por parte do educador, é um dos mais importantes recursos para que tais virtudes sejam incorporadas verdadeiramente pelas crianças e jovens.
Olhar para a cultura de uma escola implica considerar todas as fontes de mensagens, explícitas ou tácitas, que estimulam determinados comportamentos e atitudes nas pessoas que participam daquele sistema.
A maneira como o professor trata o aluno em sala de aula, por exemplo, é condicionada por diversos fatores:
- Os sistemas de avaliação de desempenho, que transmitem mensagens a respeito de expectativas de como o professor deve lidar com determinadas situações e desafios.
- Valores pessoais, a respeito de o que é certo e o que é errado na relação que se desenvolve entre o aluno e o professor.
- Crenças, aprendidas em sua experiência anterior quando criança, e ao observar o trabalho de outros professores mais experientes, de como um professor deve tratar seus alunos.
- O espaço físico, a forma como os alunos se distribuem no espaço durante as aulas, que influenciam o nível de engajamento dos alunos, seu senso de pertencimento, o nível de interação, e a distância psicológica que se estabelece entre o professor e os alunos.
A mudança cultural relacionada ao conflito e ao diálogo, para que seja consistente e sustentável, deve ocorrer tanto no nível interpessoal – das interações entre as pessoas – quanto no nível organizacional – das relações contínuas que ocorrem dentro de estruturas e processos que organizam a convivência.