Em nossos trabalhos de mediação e facilitação do diálogo em organizações, escolas e famílias, nos deparamos frequentemente com pessoas que têm dificuldade de colocar-se no lugar do outro, e de considerar o impacto de suas palavras e atitudes sobre a vida e o trabalho das outras pessoas.
Tendo como um dos pilares da nossa abordagem a mediação transformativa, buscamos não apenas ajudar as pessoas a encontrarem soluções para seus conflitos, mas, sobretudo, a vivenciarem uma transformação pessoal no que se refere à maneira como lidarão com seus conflitos daqui em diante. E um dos aspectos centrais dessa transformação é o florescimento da empatia.
A empatia pode (e deve) ser desenvolvida desde a infância – e, de fato, esse é o caminho mais sustentável de transformação social que conhecemos – e as pessoas que têm mais responsabilidade e poder de influência neste processo são os próprios pais.
Por isso compartilho aqui algumas dicas e reflexões sobre como desenvolver a empatia de forma consistente em nossos filhos, que li recentemente em um texto de Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson (“How to raise a child who cares”):
As habilidades que queremos ajudar nossos filhos a desenvolver são construídas durante as interações normais do dia a dia. O trabalho parental mais importante é feito não apenas quando temos conversas sérias e significativas com nossos filhos, mas também quando simplesmente brincamos com eles, lemos para eles, discutimos com eles ou saímos juntos para passear.
Quando se trata de empatia, discursos que começam com “Você deveria se importar mais com X porque…” raramente terão um resultado duradouro. Muito mais poderoso será o exemplo que seus filhos vêem em você e até que ponto você demonstra o que significa ouvir os outros, considerar suas perspectivas e opiniões, e se preocupar com eles. Esse tipo de modelagem, particularmente como você demonstra compaixão por eles quando estão tendo dificuldades, ajudará seus filhos a desenvolver sua capacidade de empatia. E quando eles observam você fazer um esforço para viver uma vida cheia de cuidado com as pessoas ao seu redor e de consciência das necessidades dos outros, seus filhos presumirão que é assim que as coisas funcionam, e a empatia se tornará mais fortemente a maneira como eles irão interagir com o mundo.
Você pode dedicar tempo direcionando a atenção de seus filhos para as experiências e mentes de outras pessoas e ajudando-os a considerar os sentimentos dos outros.
Quando lê um livro, por exemplo, você pode fazer perguntas como: “O que o Lorax está sentindo agora? Por que ele está tão bravo com o outro personagem por cortar todas as árvores?”
Quando assistem a um filme, você pode fazer uma pausa de vez em quando para fazer perguntas como: “Por que você acha que ele ficou triste quando o outro cara começou a agir de forma tão diferente? O que você acha que ele deveria fazer?” Simplesmente ao chamar a atenção para as emoções e motivações dos personagens, é possível ajudar a criança a sair de si mesma e perceber que as pessoas nas páginas e na tela têm seus próprios interesses e considerações que estão completamente separados das suas.
A partir daí, fica mais fácil fazer perguntas semelhantes sobre pessoas reais. Por exemplo, você pode dizer: “Seu amigo parecia chateado durante as aulas de hoje, né? Eu me pergunto o que pode ter acontecido com ele esta manhã antes da escola?”
Ocorrendo em conversas simples durante as interações do dia a dia, perguntas básicas como “Por que você acha que o Lucas está triste? Como podemos ajudar?” podem ajudar a construir os alicerces para um maior senso de moralidade, consciência e consideração com as outras pessoas.
Outra escolha que você pode fazer para ajudar as crianças a serem mais empáticas é permitir que elas experimentem suas próprias emoções negativas. Cada vez que os pais permitem que o filho se sinta triste, frustrado ou desapontado, em vez de imediatamente distraí-lo ou se apressar para resolver as coisas pelo filho, o potencial de empatia cresce, pois suas dores abrem espaço para que ele entenda e se identifique com a dor dos outros. Os pais podem sentar com o filho e apoiá-lo em sua dor, é claro, mas eles não devem rejeitar aquela experiência de dor ou distrair a criança de seus próprios sentimentos.