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jun 20

Auto vitimização e auto responsabilização

  • 20 de junho de 2018
  • Iuri Storch
  • Comunicação Não Violenta, Escolas, Inteligência emocional, Mediação, Pais e filhos

O que é a vitimização? Qual é a importância da auto responsabilização para a evolução do ser humano e para a resolução pacífica de conflitos? Como ajudar alguém a sair do vitimismo? Como podemos transformar a cultura de auto vitimização pela raiz, ensinando a auto responsabilização para crianças? Vamos explorar esses desafios ao longo deste texto.

O certo e o errado

Tenho observado, em meu trabalho de mediação em escolas, organizações e famílias, que a principal causa de praticamente todos os conflitos é um padrão de pensamento segundo o qual “uns estão certos e os outros estão errados”.

Ao trabalhar com pessoas envolvidas em um conflito, frequentemente fico intrigado ao ouvir a história de um lado e a história do outro lado, e perceber que as pessoas, na maioria das vezes, resistem em aceitar a possibilidade de que o outro também pode estar certo, ou melhor, de que as atitudes do outro podem ter algum sentido ou legitimidade dentro daquele contexto.

O conflito é co-construído

Costumamos dizer que “o conflito e co-construído”. Todos têm sua parcela de responsabilidade para que o conflito se desenvolva.

Na mediação, buscamos formas de provocar nas pessoas uma mudança de perspectiva em relação ao conflito, através, por exemplo, de perguntas como “O que você tem feito para contribuir para este conflito?”.

As pessoas, assim, percebem que não precisam polarizar a relação, ou pensar que a única forma de compreender aquela situação implica em que um dos envolvidos esteja integralmente correto e o outro integralmente errado. Ou ainda que um é bom enquanto o outro é mau. Ou que um é a vítima e o outro é o malfeitor.

Espirais de conflito

O conceito de “espiral do conflito”, que faz parte do universo da mediação, descreve um fenômeno muito comum: há uma progressiva escalada, em relações conflituosas, que resulta de um círculo vicioso de ação e reação. Cada reação torna-se mais intensa do que a ação que a precedeu, e cria uma nova questão ou ponto de conflito.

Com essa escalada do conflito, as suas causas originais tornam-se cada vez mais secundárias, a partir do momento em que os envolvidos mostram-se mais preocupados em responder a uma ação que imediatamente antecedeu sua reação.

Por exemplo, uma mulher que, diante de suas necessidades de autorrealização, ou por querer cuidar de sua segurança financeira, dedica-se ao seu trabalho profissional mais do que seu marido gostaria.

O marido, sentindo-se magoado e solitário, desenvolve uma relação extraconjugal. A mulher, ressentida com o marido, pede o divórcio, e, movida por um desejo de reparação ou vingança, “para que ele sofra tanto quanto me fez sofrer” (um desejo que encobre uma necessidade de justiça e de reconhecimento), entra com uma ação na justiça pedindo a guarda dos filhos.

O homem, ofendido por ter seu lugar de pai questionado e ameaçado, insulta a mulher, desqualificando-a como mãe e como pessoa. E assim por diante…

Nessa dinâmica, é delicado afirmar que há alguém que seja a vítima e alguém que seja o ofensor. Ambos são vítimas e ofensores. O lugar da vítima e o lugar do ofensor convivem como em uma dança: ora a pessoa está de um lado, ora do outro.

O que é a vitimização

Quem é a vítima? É aquela pessoa que sofre por uma situação dentro da qual não tem escolha. Existem, de fato, muitas vítimas no mundo.

Porém, existe o “lugar da vítima”. Um lugar que muitas pessoas escolhem (sim, escolhem) ocupar. E por que escolhem isso? Porque vêem vantagens nessa escolha, mesmo que não tenham consciência disso.

A vitimização pode prejudicar consideravelmente a vida de uma pessoa e daqueles que estão ao seu redor. Essa atitude faz com que a pessoa tenha uma visão distorcida da realidade, e que sempre busque encontrar um culpado por aquilo que acontece com ela, esquivando-se de assumir as suas próprias responsabilidades.

As pessoas vitimizadas tendem a se sentir infelizes por acreditarem não ter condições de mudar a sua vida. Por outro lado, elas sabem que o papel de vítima sensibiliza as pessoas, e usam isso a seu favor. Com suas queixas, elas conseguem chamar a atenção dos outros, transformando-se assim no foco das atenções, provocando uma sensação de que são importantes e especiais.

Não pedem ajuda e nem procuram sair de uma situação que não lhes agrada, porque isso lhes traz vantagens e piedades. Sua atitude, simplesmente, é se lamentar.

Além disso, elas têm dificuldade de fazer uma verdadeira autocrítica. Não percebem e nem admitem que exista algo para melhorar nelas mesmas.

Não se faça de vítima

O problema é que, como disse Bert Hellinger, autor das constelações familiares, “quem persiste na atitude de vítima não consegue mudar”. A pessoa que permanece nesse lugar não encontra força de realização e de transformação dentro de si mesma.

E sua vida permanece igual – com os mesmos problemas de relacionamento, constantes dificuldades emocionais, problemas recorrentes em relação ao trabalho, e assim por diante.

Aprender verdadeiramente, no discurso e na prática, o que significa ser responsável pelas próprias ações e pelos próprios sentimentos, é um passo – ou melhor, um caminho – da mais alta importância na evolução de um ser humano.

Ajudando alguém a sair do vitimismo

Ajudar alguém a sair do vitimismo é um dos maiores presentes que um educador ou um pai pode dar a uma criança, que um mediador pode dar a alguém que está em um conflito, ou que um terapeuta ou médico pode dar a um cliente ou paciente.

É somente a partir daí que alguém pode abrir mão do hábito confortável de culpar os outros pelos seus sofrimentos e dificuldades – e iniciar um movimento, de dentro para fora, de construção de uma vida plena de realização pessoal, saúde e paz nos relacionamentos.

Porém, é preciso tomar cuidado com a vítima. A vítima é perigosa. Para a vítima, “se você não está comigo, está contra mim”. Uma tentativa bem intencionada de mostrar para a vítima que o outro merece ser considerado e compreendido pode levá-la a voltar-se contra você.

Por isso, seja você um terapeuta, um amigo, um conselheiro ou um educador, uma maneira mais efetiva de levar a vítima a melhorar sua compreensão a respeito de sua própria responsabilidade sobre a situação em que se encontra é, em primeiro lugar, demonstrar empatia para com ela.

Demonstrar empatia não requer que você concorde com ela, ou com a forma como ela está agindo. Significa acolher seus sentimentos (de frustração, de solidão, de medo ou de raiva) e compreender as coisas do ponto de vista dela. Todas as pessoas têm a necessidade de sentirem-se compreendidas.

Feita esta conexão empática, é mais fácil, em seguida, ajudá-la a compreender também os sentimentos e a situação do ponto de vista da outra pessoa. Como disse Marshall Rosenberg, psicólogo americano que sistematizou o conceito de Comunicação Não Violenta, “primeiro a conexão, depois a educação”.

Comunicação Não Violenta: linguagem de auto responsabilização

Segundo Marshall, a negação de responsabilidade é um dos tipos de comunicação alienante da vida, na medida em que turva nossa consciência de que cada um de nós é responsável por seus próprios pensamentos, sentimentos e atos.

Por exemplo, a expressão “fazer alguém sentir-se” (como em “você me faz sentir culpado”) é uma das maneiras pelas quais a linguagem facilita a negação de responsabilidade pessoal por nossos sentimentos e pensamentos.

A postura de vítima leva a pessoa a culpar o outro pelo que ela está sentindo ou sofrendo. E é claro que o ataque provoca a defesa. Afinal, ninguém gosta de ser atacado. Quando a comunicação entre duas pessoas entra nessa dinâmica de ataque e defesa, perde-se de vista o que é que realmente cada um está precisando para sentir-se mais atendido em suas necessidades.

Colocar um problema utilizando a Comunicação Não Violenta é um convite para que o outro se conecte e se solidarize com a necessidade de quem apresentou o problema.

Em uma ocasião, narrada por Marshall Rosenberg, uma professora disse “Detesto dar nota. Acho que elas não ajudam e ainda criam muita ansiedade nos alunos. Mas tenho de dar, é a política da secretaria”. Marshall, para provocar um ganho de consciência em relação à sua responsabilidade pessoal, sugeriu a ela que substituísse a frase “Tenho de dar nota porque é a política da secretaria” por esta, completando-a: “Eu opto por dar nota porque desejo…” Ela respondeu: “Eu opto por dar nota porque desejo manter o emprego”, acrescentando: “Mas não gosto de dizer dessa maneira, porque faz com que eu me sinta responsável pelo que faço…”

A Comunicação Não Violenta também nos conscientiza de que o que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo, mas nunca a causa dos nossos sentimentos. Nossos sentimentos são resultado de como escolhemos receber o que os outros dizem e fazem, bem como de nossas necessidades e expectativas. Somos, assim, levados a aceitar a responsabilidade pelo que fazemos para gerar os nossos próprios sentimentos.

Diante de uma fala ou atitude negativa, podemos tomar aquilo como pessoal e escutar apenas acusação e crítica, aceitando o julgamento da outra pessoa e provocando em nós sentimentos prejudiciais para a nossa auto-estima, como culpa, vergonha e depressão. Ou então inverter o sentido da culpa, projetando-a na direção da outra pessoa, culpando-a pelo que fez ou disse – e assim é provável que sintamos raiva.

Uma opção saudável, neste caso, é desenvolver a auto empatia – perceber nossos próprios sentimentos e necessidades diante daquela situação. Ao fazermos isso, podemos nos conscientizar, por exemplo, de que um sentimento de mágoa é consequência de uma necessidade de reconhecimento que não está sendo suficientemente atendida.

Transformando a cultura de vitimismo na raiz: ensinando a auto responsabilização para crianças

A educação que muitos de nós recebemos quando crianças, e que a maioria das crianças recebe ainda hoje, tanto nas escolas quanto no seio familiar, é carregada de uma crença de que “errar é errado”. Em nossa sociedade, aprendemos a ter vergonha dos erros.

No entanto, não há nenhum ser humano perfeito no mundo, embora todos exijam isso de si mesmos e dos outros.

Procure lembrar-se de mensagens que você recebeu de seus pais e professores sobre erros quando era criança. Que mensagens eram essas? Quando você cometia um erro você recebia a mensagem de que era burro, inadequado, mau, desajeitado? Ao receber essas mensagens, talvez você tenha, inconscientemente, tomado decisões a respeito de você mesmo e de como se comportar no futuro.

Algumas pessoas decidem que são más ou inadequadas. Outras decidem que não devem correr riscos por medo de sentirem-se humilhadas caso seus esforços não sejam bem sucedidos. Outras decidem se tornar bajuladores e tentar agradar os outros, à custa de sua autoestima. E alguns decidem que serão dissimulados sobre seus erros e que farão de tudo para evitar serem considerados culpados.

Pais e professores que dão às crianças mensagens negativas sobre erros geralmente têm boas intenções: estão tentando motivar as crianças a serem melhores “para o seu próprio bem”. Entretanto, não pensaram muito bem nos resultados de seus métodos em longo prazo.

Precisamos, portanto, aprender a ensinar as crianças a verem seus erros como oportunidades para aprender. Podemos, por exemplo, dizer a uma criança: “Você cometeu um erro. Isso teve consequências ruins. O que nós podemos aprender com isso?”

Podemos também modelar a auto responsabilização através do exemplo, ao sermos capazes de dizer: “Eu errei. Me desculpe.” Segundo Jane Nelsen, autora do best seller ‘Disciplina Positiva’, “Quando os adultos assumem responsabilidade pelo que fizeram para criar um conflito, as crianças geralmente querem seguir o exemplo e assumir sua parte da responsabilidade. Crianças aprendem responsabilidade quando têm exemplos de responsabilidade.”

Podemos também ser exemplos de coragem para aceitar a imperfeição, de forma que as crianças aprendam que erros são oportunidades de aprendizado.
Mas para isso nós, adultos, precisamos mudar qualquer crença negativa que possamos ter a respeito dos erros.

“É muito mais fácil assumir responsabilidade por um erro quando este é visto como uma oportunidade aprendizagem do que quando é visto como algo ruim. Se nós vemos os erros como algo ruim, tendemos a nos sentir inadequados e desencorajados e podemos ficar defensivos, evasivos, julgadores ou críticos – de nós mesmos e dos outros.”, disse Jane Nelsen.

Outro aprendizado importante para todas as crianças é o de que suas ações têm consequências. Encontrar formas de mostrar essa realidade para as crianças, não de uma forma punitiva, porém que sirva para o aprendizado de que existe uma relação de causalidade entre o que fazemos ou deixamos de fazer, e o que experimentamos mais tarde em nossas relações, em nossa saúde e em nosso bem-estar, é um grande serviço que podemos prestar para o seu futuro.

Para isto, precisamos ser capazes de permitir que as crianças experimentem algumas decepções e frustrações, sem querer protegê-las ou privá-las de tais sofrimentos.

Naturalmente, as crianças, quando adultas, terão mais facilidade de considerar a possibilidade de que têm co-responsabilidade por eventuais conflitos ou dificuldades de relacionamento que estejam vivenciando.

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About The Author

Mediador, especialista em gestão de pessoas e desenvolvimento de grupos, comunicólogo, consultor organizacional, terapeuta e facilitador de Comunicação Não Violenta (CNV). Idealizador e fundador do Instituto Bem-te-vi.

3 Comments

  1. Ana Paula Peron
    20 de junho de 2018 at 18:08 · Responder

    Excelente texto! Parabens!

  2. Lea Waidergorn
    29 de novembro de 2018 at 11:50 · Responder

    Muito bom e amplo. Parabéns Iuri Storch

  3. Vera Fernandes
    2 de novembro de 2021 at 08:14 · Responder

    Muito bom.

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